Rato: Modelo de Estudo

Rato

Os roedores são mamíferos que apresentam diversas similaridades com os humanos como: plano de corpo, sistemas orgânicos, mecanismos de regulação psicológica e áreas cerebrais. Análises genômicas comparativas indicam que humanos e ratos tiveram um ancestral comum há aproximadamente 75 milhões de anos atrás, o que sugere uma grande similaridade genética entre estas espécies.

O rato de laboratório (Rattus norvegicus), além de ser a espécie preferida na fisiologia e farmacologia, tem ganhado maior atenção nas últimas décadas entre os geneticistas, pois, dentre outras características, teve o seu genoma completamente sequenciado. Este genoma é um pouco menor do que o dos humanos (2,75 bilhões de pares de bases e 21 cromossomos vs. 2,9 bilhões de pares de bases e 23 cromossomos; respectivamente). Entretanto, as duas espécies apresentam cerca de 30 mil genes, sendo que 40% deles são muito próximos em estrutura e função. Além disso, existem cerca de 1000 doenças hereditárias humanas, onde a participação genética não é bem entendida, sendo que 75% delas têm genes análogos em ratos, que podem ser comparados com os genes humanos através dos bancos genômicos.

rat genome

Apesar dos transtornos humanos serem essencialmente presentes em nossa espécie, respostas fisiológicas e comportamentais semelhantes têm sido descritas em diversas espécies animais. Estas respostas parecem ser parte de um mecanismo universal através do qual os organismos se adaptam a condições adversas. Assim, o estudo comportamental comparativo de linhagens de ratos pode, sem dúvida, trazer avanços no conhecimento de fatores ambientais, genéticos, epigenéticos e neurobiológicos a respeito dos transtornos emocionais humanos.

Ratos

Em nosso laboratório, trabalhamos com diferentes linhagens de ratos (SHR, Lewis, SLA16, Wistar) que diferem comportamentalmente, umas das outras, quanto a uma série de índices de ansiedade, emocionalidade ou estresse. As linhagens (Lewis e SHR) são isogênicas (todos os indivíduos são geneticamente idênticos entre si) e são mantidas em um sistema de acasalamento irmão com irmã há mais de 40 gerações em nosso laboratório. A linhagem congênica SLA16 foi recentemente desenvolvida em nosso laboratório, através de uma técnica de seleção por marcadores moleculares, e a linhagem Wistar é uma linhagem não isogênica com grande variação alélica entre seus indivíduos.

Nós estudamos as características comportamentais exibidas pelos animais em aparatos especialmente desenvolvidos para se avaliar níveis de reatividade emocional e buscamos compreender os genes, proteínas, vias neuroquímicas e neurobiológicas envolvidas com estes comportamentos que poderão nos levar à identificação de genes associados a psicopatologias humanas.

Caixas

Caixa Aberta LGC

Teste no Campo Aberto

Teste na Caixa Branco e Preta

Teste no Labirinto em Cruz Elevado

Rodinha de corrida

Exercício físico espontâneo em rodinhas

TT LGC

Teste Triplo

alternação

Alternação espontânea

Recentemente, vários pesquisadores têm atentado para a importância do uso de fêmeas em testes comportamentais, mas, mesmo assim, esta é ainda uma prática rara. Uma das principais razões da exclusão das fêmeas dos testes comportamentais com animais experimentais é a flutuação hormonal que ocorre durante o seu ciclo estral. Basicamente, os ratos pertencem a um grupo de animais com ciclo estral curto (4-5 dias), onde ocorrem mudanças fisiológicas no ovário, útero e vagina dependentes de cada uma das 4 fases onde as fêmeas podem se encontrar. Estas fases são nomeadas proestro (~12h de duração), estro (~12h), metaestro (~21h) e diestro (~57h). Diversos estudos vêm sugerindo que a flutuação hormonal causada pelo ciclo estral pode alterar o comportamento das fêmeas e por este motivo nosso laboratório também se dedica a estudar o seu comportamento. Isto poderá nos levar a uma melhor compreensão dos mecanismos do comportamento animal assim como a uma identificação de genes que afetam o comportamento e os transtornos psiquiátricos humanos em mulheres.

Marcadores

Todos estes testes, bem como as técnicas de criação e manutenção de nossos animais, seguem rigorosos critérios éticos em relação ao bem estar dos animais, com a constante preocupação de tornar o seu ambiente o mais saudável e confortável possível. Os animais recebem alimento balanceado e água a vontade, constantemente. O ambiente do biotério é mantido limpo, com sistema de exaustão do ar que evita acúmulo de gases e odores a uma temperatura de 22 graus centígrados o ano todo, com ciclo de 12h de luz e 12h de escuridão controlado automaticamente.

Fotos: Luís Abatti, Dalila Sutério, Geison Izídio